Em 2015, todos somos indígenas

Por Joana Milcheva

Foto: www.jogosmundiaisindigenas.com
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Com as fanfarras dos grandes eventos esportivos – por exemplo, dos Jogos Olímpicos do próximo ano e dos Jogos Pan-Americanos deste julho – não é difícil se esquecer dos eventos de escala menor, como os primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Os Jogos ocorrerão em Palmas, Brasil, de 18 até  27 de setembro deste ano, juntando 2,000 pessoas de 25 países – a maioria das quais serão de origens Quíchua, Aimará, Guarani, Krahô, Krahô Canela, Karajá, Karajá Xambioá, Apinajé, Xerente e Javaé. Outros participantes nos Jogos virão da Austrália, do Canadá, da China, dos EUA, Finlândia, Guiana Francesa, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Rússia/Sibéria, e Filipinas.

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O evento é revolucionário na história das Américas porque desde a época colonial, os povos nativos foram e continuam sendo marginalizados. Os primeiros cronistas  consideravam os habitantes do Novo Mundo como criaturas de “entendimento bestial e mal inclinado,” como escreve o Capitão Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés na sua História geral e natural das Índias de 1526. As diferenças culturais entre os europeus e os indígenas no século XVI deixaram cicatrizes que até hoje afetam as relações interétnicas no continente, com a força social nas mãos dos descendentes dos conquistadores europeus.

Nesta altura, em 2015, tudo muda. Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas são uma das maneiras mais inclusivas para celebrar as origens e tradições indígenas das Américas, e do resto do mundo. O Comité Intertribal e Ministério do Esporte do Brasil estão encarregados de organizar este acontecimento histórico. A presença de tradutores de mais de 100 línguas indígenas será inestimável para a comunicação entre os jogadores de todos os povos, os média e os organizadores. Além das atividades própias dos costumes nativos, como o tiro com arco e flecha, arremesso de lança e a canoagem rústica, entre outros, as categorias esportivas incluirão esportes ocidentais como o futebol, o atletismo e a natação.

Foto: www.jogosmundiaisindigenas.com
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A ideia innovadora de criar os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas foi de Marcos Terena, brasileiro de etnia Xané e representante dos Direitos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU). Terena disse que  precisamos de nos aproximar do exemplo de Evo Morales, o primeiro presidente indígena do mundo e presidente actual da Bolívia, para representar a grandiosidade do que será o Mundial Indígena. O lema dos Jogos deste ano é “Em 2015, somos todos indígenas.”

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Joana Milcheva está no seu quinto ano na Universidade de Toronto, acabando a sua especialização em espanhol. Além das línguas, está interessada nas artes e na história da civilização: ela acha que as três disciplinas têm alguma coisa em comum. No seu tempo livre dedica-se às artes visuais (fotografia e desenho gráfico) e a várias atividades na natureza. Gostaria de continuar os seus estudos ao nivel de graduação e, algum dia, viajar pelo mundo.