por Joana Milcheva
Este verão, fui estudar em Sevilha por um mês, e na ida quis que o meu vôo passasse por Lisboa para eu poder ficar lá um dia. Infelizmente, só consegui ficar uma hora em Lisboa na volta para Toronto.
A sorte é uma coisa interessante. O primeiro vôo de Sevilha à Lisboa chegou meia hora atrasado. Não me deixaram subir no segundo avião – tiraram a minha bagagem (ninguém sabia onde foi que a deixaram), me disseram que não podiam fazer nada – deveria falar com a minha companhia aérea. Ótimo – não tinha dinheiro para comprar outra passagem de volta (já que um mês na Espanha não foi barato) e tampouco quis gastá-lo num hotel. A única coisa que pude fazer foi falar com uma empregada da companhia. Depois de duas horas falando com ela (pelo telefone), consegui um novo vôo, uma habitação no hotel Roma e um cupão para um táxi e um jantar. O que mais podia eu querer? Por casualidade, consegui passar uma tarde em Lisboa.
Cheguei ao hotel, tomei um banho e saí pelas ruas. Não fazia tanto calor como em Sevilha e as nuvens baixas fizeram que as cores “saltassem” dos seus lugares convencionais. O meu plano foi caminhar na direção da Baixa e deixar-me descobrir as maravilhas da cidade com os olhos duma criança. Não sabia quais eram e onde ficavam os pontos turísticos – não tinha tempo para buscar os itinerários e guias. Só quis caminhar. Entrei no primeiro café que vi – comi uma verdadeira nata portuguesa, tomei uma bica e continuei a minha aventura surreal naquela cidade.
Em cada rincão descobri tesouros escondidos – muros de azulejos, pequenas avenidas, grafites ou roupas penduradas nos varais. Numa rua vi uma placa que dizia “miradouro.” Comecei subindo pela rua de pedra. Pouco a pouco se revelava uma vista incrível frente do meu olhar displicente – tetos, árvores, praças, pontes e colinas, e detrás de tudo – o brilho do Atlântico. Quase parei de respirar – os meus olhos estavam encantados com a nova descoberta e devida admiração que aquela paisagem deslumbrante merecia. Que presente inesperado me deu aquele passeio ao acaso!
Tinha no meu bolso um cadeado aberto que encontrei num dos meus últimos dias no chão em Sevilha. Quis escrever uma mensagem no cadeado para minha namorada e fechá-lo numa cerca como a gente faz em Paris, mas não encontrei um lugar apropriado e então, não o fiz. Agora sei a razão – o lugar foi Lisboa. Uns meses depois, ela também foi a Lisboa o encontrou o cadeado ao Miradouro da Nossa Senhora do Monte :)
Joana Milcheva está no seu quinto ano na Universidade de Toronto, acabando a sua especialização em espanhol. Além das línguas, está interessada nas artes e na história da civilização: ela acha que as três disciplinas têm alguma coisa em comum. No seu tempo livre dedica-se às artes visuais (fotografia e desenho gráfico) e a várias atividades na natureza. Gostaria de continuar os seus estudos ao nivel de graduação e, algum dia, viajar pelo mundo.