Aula com o Gonçalo M. Tavares

por Jaclyn Bucar

Foto: Diogo Sallaberry / Agencia RBS
Foto: Diogo Sallaberry / Agencia RBS

No dia 23 de outubro, os estudantes de português como língua estrangeira e os estudantes de raizes portuguesas tiveram a prazer de passar duas horas conversando com o Gonçalo M. Tavares. Gonçalo M. Tavares é um escritor português aclamado internacionalmente, criador de uma importante obra publicada durante uma intensa carreira editorial de apenas 13 anos. Entretanto, o que mais me interessou foi a sua concepção do processo da escrita e da publicação. Para nós, estudantes, que nos encontramos frequentemente com iminentes datas de entrega de trabalhos flutuando pelo horizonte, acho que os conselhos dele revelam que a complexidade de qualquer trabalho escrito exige um cuidado e uma calma que não podemos conseguir durante umas semanas de trabalho (ou uns dias…ou umas horas…dependendo do caso…).

Segundo o autor, um escritor pode levar meses (ou anos!) para produzir o seu trabalho final e, mais radicalmente, DEVE demorar um período semelhantemente longo para rever e refinar a escrita. Explicou-nos que começou a escrever aos 18 anos, mas não publicou nada até 2001, aos 31 anos. Isso são 14 anos a escrever, sem nenhuma tentativa de publicação !

Há um bom raciocínio detrás desta ideia: é sempre mais difícil criticar a tua própria obra. Portanto, é aconselhável tomar o maior tempo possível para rever algo que escreveste. Nas palavras de Gonçalo M. Tavares: “A escritura é escrever, escrever, escrever, e depois ler, ler, ler.” Não podemos evitar esta segunda etapa, a qual nos deve custar mais tempo do que a escrita original do texto. Desta maneira, é através da “destruição” ou depuração lenta do teu próprio trabalho que consegues uma versão final de boa qualidade. Nunca há que se apressar; pelo contrário, é preciso saborear cada bocadinho do teu trabalho e cuspir toda migalha que não seja absolutamente necessária ao texto em geral. ☺ Tornando de novo às palavras do autor, “O [seu] objetivo é diminuir ao máximo o número de palavras dizendo o que [quer] dizer.” De acordo com esta teoria, a brevidade e a paciência são as virtudes irrefutáveis do escritor.

O conselho do escritor famoso é “criar distância” entre a escrita e a revisão. É muito difícil ser crítico dum trabalho próprio e é menos provável que o façamos imediatamente depois de o termos escrito. Portanto, “pôr tempo no meio é essencial,” como nos disse na aula de 23 outubro. Com bastante tempo sem olhar um texto, é possível vê-lo na próxima vez quase com olhos novos, sem ligação ao conteúdo escrito e preparado para tirar e mudar coisas sem aversão.

Agora, meus colegas, sabemos exatamente por que razão as nossas notas nos ensaios são tão más – não tomamos o tempo adequado para culminar os nossos trabalhos!

Pronto, isto já sabíamos…por falha nossa ou por falha dos nossos professores, isso é outro debate… ☺

De todas formas, somos muito agradecidos ao Sr. Tavares pelo seu tempo e pelo seu discurso sobre a escrita e a leitura. Nessa mesma aula comecei a pensar de escrever de uma maneira distinta – no meu processo de escrever, na minha organização, na revisão requerida… Também reparei alguns hábitos como leitor que ele e eu temos em comum, como o ler com lápis na mão (para sublinhar extratos de interesse) e o debruçar-me sobre o livro enquanto leio, como se o livro fosse tentar fugir. Estes são hábitos que sempre tive, mas também se têm desenvolvido muito desde o inicio dos estudos universitários. São marcas de um envolvimento cauteloso com um texto – seja um texto próprio ou um texto de outrem. Se podemos interiorizar uma lição da nossa aula com o Gonçalo M. Tavares, esta é que os papéis que nós estudantes desempenhamos como leitores e, muitas vezes, escritores não são nem simples nem facéis. Requerem atenção, esforço e, o fator mais importante, TEMPO ! Pessoalmente, aprendi muito com a nossa aula e os conselhos do Sr. Tavares estarão presentes nas minhas considerações sobre cada trabalho que farei daqui em diante… e nunca vou poder esquecer-me do que um escritor famoso me disse (em palavras indiretas) o que temos vindo a dizer desde o primeiro ano da universidade – nunca temos tempo suficiente para terminar os nossos trabalhos !

 


Jaclyn Bucar é uma aluna de quinto ano da Universidade de Toronto. Especializa em espanhol; também estuda francês, português e literatura em inglês. No seu tempo livre, gosta de ler, de escrever, de ouvir música e de a trocar com os outros. No futuro espera poder viajar, ensinando inglês e melhorando as suas habilidades linguísticas, e admite que os estudos de grado estão a brilhar no horizonte :)